quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

sonhar*

Quando se é criança, é-nos dado o privilégio de sonhar. Todas as portas nos estão abertas e podemos voar, brincar, entrar e voltar a sair nas diversas portas e, quem sabe, até mesmo janelas.
Tudo é feito com inocência, com o delicado amor, sincero e verdadeiro. A descontracção, gozo e despreocupação são notáveis no rosto e no à-vontade com que faz a sua àrdua tarefa (que por vezes, para pesadelo da mãe, inclui sujidades ditas terríveis...).
Porém, chegada a hora de crescer, terá que iniciar o cumprimento de tarefas e deveres. Brincadeiras proibidas, pois já não são para a sua idade, o início da escola, o saber estar e ser, para que quando em contacto com a grande sociedade não faça "má figura".
Encontrei um exemplo curioso para tentar explicar, o que a meu ver, simboliza o deixar de sonhar e tentarem desacreditar os outros a fazê-lo. Uma janela de uma casa.
Qual a criança que não gosta de brincar ao ar livre? A luminosidade do Sol que aquece os seus sorrisos e gargalhadas, a chuva (água) que acalma a intensidade da dor abdominal devido ao ataque de cócegas, a terra e pedras que adoçam a especialidade culinária do pequeno "chef", a borboleta que lembra a delicadeza da bailarina ou o eterno aventureiro em busca do tesouro na savana. Seguem-se as guerras entre tribos, são de novo revividas as grandes batalhas das epopeias, as conquistas e derrotas combinadas antes mesmo de começarem (porque hoje eu sou o rei, mas amanhã és tu! Pode ser?), e as espadas improvisadas (simples paus de madeira ou plástico) com o seu cavalo fiel que sabe exactamente para onde o seu dono quer ir (quem não cavalgou por entre montanhas e ao longo de vales na sua vassoura de pau), e assim viajem durante horas naquele mundo fantástico de sonhos de criança.
Eles ainda não perderam o passaporte: saber sonhar!!!
Quando cresce deixa o mundo exterior para se recolher mais tempo em casa, pois é lá que estão muitas das coisas para serem feitas. Resta apenas as pequenas fugas para quando ainda estamos em horas de "não brincar", corrermos até à janela e olhar, observar o local que mais gosta e o faz feliz. Até que é descoberto e alguém lhe diz para não o fazer, ou porque se acabar o trabalho mais rápido, mais depressa vai brincar, ou porque, ou porque, isso não interessa, apenas não está correcto, nem que seja porque entra pó para a casa. E assim, aos poucos, com o passor do tempo ele deixa de abrir a janela, tem mais trabalhos e outros divertimentos para passar o seu tempo (cada vez mais escasso).
A janela fica lá, esperando ser aberta, e então já é o jovem o menino que brincava. De vez em quando aproxima-se dela e sorri, recordando a infância, as brincadeiras que fizera ou os castigos que tivera por insistir ir brincar. A janela é oculta pelo cortinado e a luz que transmite foi substituída pela artificial. Não passa de um portal mágico, quase nunca ativado. Aliás deixou de o ser, não passa agora de "livro de memória" em que as recordações vêm e vão.
Eu ainda abro a minha janela apesar de muitos me advertirem inconscientemente de o fazer. Faço-o à noite onde o silêncio me recorda a magia da simplicidade dos contos de fadas, que nada têm senão dizerem que somos especiais e temos do dever de ser felizes.

Nunca ouvi dizer que alguém tivesse morrido por sonhar e ser feliz. =)

1 comentário:

Anónimo disse...

Deus sabe quanto daria para ter alguem como você, ainda que do tamanho de um palmo, mas que tivesse comigo quando dormo, quando viajo, quando penso, e quando tenho dificuldade. Amo você, e Deus sabe.